É apenas um espaço de debate e reflexão sobre os bons e os maus acontecimentos da vida cotidiana.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Meu tesouro!
Talvez, quando partirmos, só precisaremos de nós mesmos, bem fortes, para transportar o tesouro, amealhado com as experiências compartilhadas com as outras pessoas.
Lula, a comunicação e o tempo!
Esse discurso de Lula, certamente, entrará para a História do Brasil. Para quem tem na comunicação seu objeto de estudo, deveria guardá-lo para a posteridade! No calor dos fatos, não temos o distanciamento histórico necessário para avaliá-lo de forma isenta.
Mas a informação que prevalece é a força e o poder de comunicação de uma pessoa que muito poucos sabe sobre os meandros da palavra, guindo-se apenas pela mais pura intuição. Eu admiro!
24 de setembro de 2010 às 0:20
Leonardo Boff: A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma
Por Leonardo Boff
23 de setembro de 2010
Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido
com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser
preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o
“Brasil Nunca Mais”, onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente
fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.
Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual
enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser
tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de
ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está
havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota
eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a
candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação
de fatos, a distorção e a mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem
seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como
“famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil
e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O
Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja,
na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da
imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado
sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente
que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão
pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se
comporta como um feroz partido de oposição.
Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos,
editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta
autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser
tratado com o chicote da palavra que humilha.
Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista.
Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande
tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a
Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o
mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se
sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o
lugar do peão é na fábrica produzindo.
Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e
Reforma), “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre
alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança
nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca
o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas
virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo -Jeca Tatu-;
negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe
negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na
periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.
Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra
os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles
têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma
trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão
de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo
chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso
para eles é simplesmente intolerável.
Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se
deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais
organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais
lugar para coroneis e para “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula
afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa
midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou
a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva
da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita,
falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de
opinião.
O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em
si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo,
operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez
inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais
de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos,
de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa
de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder
mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar
de vida.
Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e
distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que
beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com
salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando
satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar
melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de
práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua
promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais
marginalizados.
O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de
melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia
comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular
que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa
nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais
participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção
das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao
seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa
escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado
especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de
mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo
econômico e às formas cooperativas de produção.
O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma
é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial,
neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com
sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora
despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca
tínhamos visto antes?
Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma.
Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão
triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia
comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho
novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de
brasileiros.
Fonte: Adital
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