sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

As mais lindas crônicas de Renata SM

Para que serve?
Literatura, no Minidicionário Luft, é o conjunto de normas a que obedece a estruturação das obras de arte verbal. Na vida prática, de quem gosta, pelo menos um pouquinho que seja de ler, o significado é bem mais abrangente. É evidente que Literatura não é apenas um conjunto de normas; ela serve, a priori, para registrar fatos históricos e fornecer, às gerações futuras, informações sobre as características peculiares de uma época, seus costumes, pensamentos, sua política, e todo e qualquer tipo de informação que sirva para estudarmos, analisarmos e compreendermos o mundo como está hoje através do conhecimento do seu processo de construção.
Quem tem por costume ler, tem também o mundo todo ao seu alcance sem sair do lugar. Os livros são fontes das mais diversas informações, tento gerais quanto específica. Lendo, pode-se ir à Martinica ou saber como funcionam as máquinas de uma fábrica de palmtops no Japão, assim como é possível conhecer as histórias e estórias do grande Rei Arthur e também saber da vida toda do Chico Bento e da Rosinha (com todos os trocadilhos possíveis); pode-se ir ainda da Groenlândia à Antártida em minutos; sair de Budapeste, dar uma passadinha no Brasil, passar a noite em Londres e ir dormir no país das Maravilhas (aproveitando bem cada um desses lugares) em menos de um dia e num vôo com inúmeras conexões pelo mundo todo.
Para falar a verdade, quem lê constantemente está sempre "antenado" com as coisas ao seu redor, sem falar que aumenta sua competência discursiva em função de estar em contato contínuo com novas expressões lingüísticas e também com novas formas de utilização das palavras antigas. (Ops! Aqui cabe a interjeição). As palavras nunca são antigas; cada vez que as pronunciamos elas se tornam novas e brilhantes, ou opacas, dependendo da situação e das condições. Tem acesso a outras culturas e pode conhecer melhor o estilo de cada autor, tendo capacidade de supor quais foram seus sentimentos, como foi sua vida, que condições de estudo teve e, principalmente, qual visão de mundo eles pretendem nos passar através daquilo que escrevem. Engrandecendo ainda mais a lista dos benefícios provenientes da Literatura e do ato de ler, existe o fato de que ainda se pode aprender com os erros do passado para não cometê-los no presente, objetivando, assim, coisas boas para o futuro (como sou otimista...), ou seja, adquirir experiências de vida, aprimorar as opiniões e ampliar a capacidade de analisar os conceitos que são apresentados às pessoas. Passando agora para o mais deleitoso "português", bem claro e simples, a Literatura serve, mais que tudo, para dar asas à imaginação, para alimentar a alma com as mais belas e intrigantes aventuras, perseguições, sagas, romances. Para aguçar a criatividade, desde pequeninos, e proporcionar os mais emocionantes momentos de lazer e de prazer. E ainda existe gente que diz: - Ler pra quê? Eu não gosto de ler. Difícil de entender... (Esta crônica foi escrita pela aluna Renata de Souza Moreira, em 24 de agosto de 2005, no meu curso de Teoria Literária, nas Faculdades Integradas Hélio Alonso, no Rio de Janeiro. Depois de uma aula expositiva que tinha como objetivo elaborar a seguinte pergunta: para que serve a literatura nos dias de hoje?, os alunos deveriam responder a pergunta por escrito, inspirados nos argumentos debatidos durante a aula).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O amadurecer... de Renata SM

... Na barriga da mãe, é deixar de ser uma sementinha e se tornar um bebê; ... depois de nascer, ainda com poucos meses de vida, é saber a hora de mamar, aprender a falar "mamã", "papa", "au au", "água"; ... com três anos, é aprender a usar o piniquinho e não precisar mais de fralda; ... com entre seis ou sete anos, é aprender a ler e a escrever e começar a fazer pequenas operações de adição e subtração; ... com entre dez e doze anos, é deixar de fazer pirraça, parar de brincar de carrinho e de boneca (só escondido), e começar a pensar que é pré-adolescente, é querer deixar de ser criança; ... com entre quinze e dezessete, é deixar de ser pré-adolescente, beijar na boca, arranjar o primeiro namoradinho, sair na night achando que já é adulto, é querer deixar de ser adolescente; ... com entre dezoito e vinte e um, é fazer faculdade, ter, em teoria, as soluções para todos os problemas da humanidade e continuar achando que é muito adulto; ... com entre vinte e seis e trinta anos, é trabalhar, ter todas as responsabilidades do Universo, controlar o próprio cartão de crédito e já estar pensando em se casar, é querer ter vinte e um outra vez; ... com entre trinta e oito e quarenta, é ser maduro o bastante (tanto que nem entrou na crise!), é ter a certeza de que não está tão velho assim, é passar quilos de cremes rejuvenescedores e entrar na academia, é querer ter vinte e sete outra vez; ... com entre cinqüenta e cinquënta e cinco, é entender que a ginástica deveria ter começado aos dezessete, é querer dar a volta ao mundo, é querer ter sido um jovem melhor; ... com entre sessenta e cinco e setenta, é achar que possui toda a experiência do mundo e ter certeza de que quando era jovem o mundo não estava tão desviado quanto hoje, é estragar os netos, rir da falta de jeito dos filhos e saber que, se quisesse, dava a volta na Lagoa correndo (só não o faz por falta de tempo); ... com mais de oitenta e oito, é entender o significado da palavra paciência, é saber que toda a experiência do mundo é muita coisa pra se carregar sozinho, é saber que o mundo é grande demais, mas uns poucos lugares vale a pena conhecer, é saber que cremes rejuvenescedores só criam uma perspectiva ilusória de futuro, é aceitar que é bom envelhecer; é saber que cartão de crédito não é tão bom assim, é saber que nem todos os problemas do mundo são tão simples de serem resolvidos, apesar de alguns muitos serem bem mais fáceis do que pensamos, é lembrar com alegria da adolescência e achar graça dos tropeços e mancadas, é saber o real valor e valorizar imensamente um beijo na boca, é brincar de carrinho e de boneca e tentar aprender a usar o vídeo-game quiçá o computador, só para agradar aos netos; é talvez não se lembrar mais de como se divide 13.773 por 93, é admitir que, às vezes, a fralda não é tão inútil assim, é ter novamente horários pra comer e dormir, é conhecer biologia e saber que a história da sementinha realmente resolve questões temporárias muito mais eficazmente, é ter sabedoria o bastante para admitir com olhos e pureza de criança, força e vivacidade juvenil, certeza de adultos e experiência anciã que, muito mais importante que tentar avançar ou voltar no tempo, é curtir o tempo presente, valorizar cada segundo do passado e entregar o futuro a quem pertence. Amadurecer com mais de oitenta e oito é compreender o quanto é importante acreditar, agradecer e confiar numa Energia que é muito maior que tudo que se chama Deus, ou seja lá qual nome Ela tiver...

domingo, 14 de outubro de 2007

Conversas fragmentadas no trem da Central do Brasil!

No último dia 09 de outubro de 2007, voltei do Méier de trem, e durante o percurso, de aproximadamente 20 minutos, pude ouvir, ainda que de forma indiscreta, um fragmento de conversa entre dois funcionários da Supervia, que pareciam muito desapontados com a qualidade dos serviços que o sistema de trens urbanos do Rio de Janeiro oferece à classe trabalhadora carioca. O que mais me chamou a atenção foi o teor altamente elaborado das informações que eles possuíam, e por isso desconfiei de que se tratava de dois altos funcionários da empresa, que poderiam estar em uma viagem de inspeção, no ramal de Deodoro. Como eles não sabiam quem eu era, nem eu sabia quem era qualquer um deles, pude ouvir tudo e até anotar alguns dados.
mulher: O Brasil é mesmo um mistério; mentalidades inxplicavelmente atrasadas, anacrônicas, gerenciam a coisa pública, e o pior de tudo é que ninguém questiona nada. Nem os governantes, os guardiões do negócio, eleitos para isso, nem o povo, que seria o maior beneficiário disso tudo. Será que algum dia alguém vai querer tomar satisfações? O que você acha?! homem: Por que você tá dizendo isso? mulher: Porque apesar das dimensões geograficamente grandiosas, continentais, como dizem, por aí, tudo aqui é pequeno, diminuto, provinciano mesmo, no que diz respeito às ações e iniciativas dos governantes. homem: Ah! isso aí é verdade, sim! mulher: É a forma de pensar é que é pequena, reduzida aos interesses imediatos, de poucos. homem: Mas isso sempre foi assim; já começou tudo errado. Culpa da História que está cheia de covardes. De uma gente que se vende por muito pouco! mulher: Então, tá na hora de mudar, você não acha? homem: Acho sim! Só não faço idéia de por onde começar. Nem eu nem ninguém. mulher: Olha só que coisa! Olha só esse trem aqui! Será que ninguém ainda se deu conta de que a classe trabalhadora não pode ser transportada em trens tão degradados quanto esses aqui? Será que quem fez as privatizações não se deu conta que vender ferrovia pra banqueiro não seria bom pro povo? Essa gente de banco só pensa em lucro rápido e fácil; eles não investem em produção, gostam mesmo é de vender e comprar papel. homem: Mas não fala essas coisas todas pra ninguém aqui. Finge que você é boba, que não sabe de nada. Senão, você já viu. Não vai nem esquentar o banco! Você sabe, nem a mãe, nem os filhos, nem a esposa ou mesmo a amante desse povo de cima utiliza os trens para ir ou voltar de casa. Essa gente anda de carro blindado, de navio de luxo ou de avião. Não recorre a essa merda para ir e vir de lugar nenhum. No Brasil, isso é pra pobre, fu...! mulher: Os diretores nunca vêm aqui, não? homem: Fazer o quê? Tá ficando maluca? mulher: Sei lá! Poderiam vir apenas para observar como o negócio está sendo administrado. É interesse deles também. homem: O que é de interesse deles já tá garantido com os recursos do governo. A forma como a classe trabalhadora, esse bando de derrotado, vai e volta pra casa... ah... isso não interessa, não! Eles que se virem!!! Que se f.....! mulher: Esses trens todos são da década de 1950 e 1960. Isso tudo tem quase 50 anos. Será que essa gente não tem vergonha de tudo isso? homem: Vergonha de quê, menina? Para eles terem vergonha seria preciso que tivessem alma! E isso eu posso garantir que eles não têm. Posso jurar que não têm! mulher: É muito chato fazer parte dessa História sempre triste que é a nossa! Olha só a cara desse povo voltando pra casa. Tudo cansado, com jeito de derrotado, nesse trem feio, escuro e velho, administrado e controlado por uma gente feia e mais obscura ainda. homem: Mas fica na sua! Aqui é tudo igual sempre. E quem gosta de mudança, logo logo é convidado pra mudar de emprego. E fica tranquila porque pra ocupar a sua vaga eles têm mais de cem candidatos, ganhando a metade do que você ganha. Então, fica na sua e vamos à luta. mulher: Tá legal! Vamos lá! (cabeça baixo e pensativa!). homem: Mais uma coisinha! A alma de nosso povo também precisa passar por uma profunda inspeção também! Você sabia que no dia do acidente no qual 8 pessoas moreram, houve saques e dois estupros. mulher: Deus meu! Vamos logo, já chegamos. Vamo! A verdade é que para que a mesquinharia e a desumanidade prevaleça é preciso que haja um acordo espúrio entre as duas partes. Se não isso tudo não seria possível. Só brota porque encontra terreno fértil. homem: Para de pensar, mulher, é melhor pra você. Vamo. Mesmo depois que o trem chegou na estação, desci e fiquei sentada pensando em toda aquela insperada conversa, que se deu em uma viagem de trem até a Central do Brasil.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

VEJA JÁ ESACOLHEU O SEU LADO! E NÓS? VAMOS CONTINUAR EM CIMA DO MURO?

O caso VEJA está se tornando muito grave na imprensa brasileira. A verdade é que ela rasga seu passado de resistência política, entregando-se, atualmente, a um jornalismo hibridizado e inconsistente; que às vezes se apresenta travestido de publicidade, às vezes de propaganda neoliberal; e no caso do último número, onde ela desqualifica de forma perversa a figura do revolucionário sul-americano Che Guevara, numa cretina exploração das técnicas da contrapropaganda, disfarçada de jornalismo atento e bem-intencionado. Tenho enormes dificuldades para compreender que tipo de informação de segunda é essa, que VEJA está tentanto empurrar guela abaixo do leitor médio e pouco esclarecido. Essa matéria é velha e fria, pois não houve nenhum fato novo e relevante que a motivasse, a não ser alimentar a velha ojeriza das classes médias brasileiras pelo pensamento socialista. O negócio está ficando bem difícil para o segmento letrado e esclarecido da população, e para fazer resistência a essa contrapropaganda, que o 'sujeito' VEJA nos vende com ares de jornalismo de qualidade, é preciso educar melhor os jovens e as crianças, além de organizar as pessoas para que elas possam fazer verdadeiramente parte de uma democracia sólida e amplamente participativa. As mudanças sociais estão em marcha acelerada diante das novas configurações impostas pela geopolítica internacional e a compreensão do papel das mídias é fundamental para que a demarcação dos espaços de atuação democrática aconteça de forma civilizada, se é que isso é possível. A verdadeira democracia demanda consciência, participação e debate, mesmo porque todo povo, mais cedo ou mais tarde, deve resgatar sua dignidade, assumindo compromissos para com sua própria história e, consequentemente, para com as gerações futuras. Certamente, elas nos agradecerão.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Ser professora é como ser uma mãe com centenas de filhos!

Quando deixei meu emprego, na maior empresa de comunicação do país, alguns me chamaram de louca e outros tantos de aventureira. Era inimaginável para eles que eu pudesse trocar aquela ação profissional promissora, que poderia até ser lucrativa, por uma outra ação, muitas vezes, malremunerada por ser pouco valorizada. Recordo-me do dia que pedi demissão, dizendo para meu chefe a seguinte frase: "quero trabalhar entre pessoas que tenham vida interior, com as quais eu possa trocar, além de informações frívolas, afetos profundos". Ele deu um sorriso irônico, seguido de um leve afago em meu ombro, e me disse que se eu encontrasse isso, vida interior em algum ambiente de trabalho, era para voltar para buscá-lo, porque se eu provasse para ele que isso existe, ele viria trabalhar comigo.
Comecei a minha árdua caminhada, em busca de minha nova conquista, e nessa trajetória não foram poucos os obstáculos e muitos os tropeços no percurso. Sofri muito para me adaptar ao novo contexto e, sobretudo, para angariar conhecimentos que me permitissem um exercício consistente e relevante para apresentar aos jovens com os quais estava começando a trabalhar. E hoje, dia 1 de agosto de 2007, lamentei muito que meu antigo chefe, por quem sempre nutri uma grande admiração, já não esteja mais entre nós, para que eu pudesse lhe mostrar a homenagem que recebi dos meus alunos, em pleno Teatro João Caetano, aqui no Rio. Vou transcrever agora a homenagem que eles me fizeram, pois tenho a esperança que ele, esteja onde estiver, possa enfim ter a prova de que há alguns lugares onde se pode encontrar alguma vida intrerior. "Ariadne, Você, que não é a 'rainha das quentinhas', foi, contudo, a pessoa que durante todos esses anos aqueceu nossos cérebros, com inúmeros conceitos lingüísticos e literários. No início de nossos estudos, na faculdade, todas as aulas eram un verdadeiro ensaio sobre a cegueira, pois não tínhamos muitas idéias sobre o que viria pela frente. Pareciam cem anos de solidão, até o dia que você alegrou nossas vidas secas com o mundo dos livros. Quando chegavam os dias de provas, era um verdadeiro crime e castigo, mas na verdade era apenas o nosso velho preconceito lingüístico em ação. Agora, que tudo passou, e o código da vinci foi quebrado, pois tornamo-nos amantes das palavras. Após esta formatura, vamos iniciar o primeiro ano do resto de nossas vidas, sabendo que vai chegar a hora da estrela brilhar. Até porque, estamos terminando o curso de comunicação social, no mês de agosto, que é tão importante e histórico para o nosso país. Tanto é assim, que, até hoje, não sabemos quem foi o homem que matou Getúlio Vargas, não é verdade? Mesmo sabendo que Nietzsche chorou, optamos em fazer comunicação social, conscientes de que teríamos uma verdadeira escolha de sofia para definirmos nosso futuro. Todavia, ao encontrarmos uma professora como você, ficamos mais entendidos sobre o segredo da literatura e assim estamos prontos para a arte da guerra, que por causa dessa árdua profissão poderemos travar. Nem o doce veneno do escorpião vai nos afetar, pois, devido às suas aulas, somos exemplos de capitães da areia e nos tornamos pequenos príncipes e princesas. Vamos ser profissionais abusados para enfrentar desafios contra traficantes e degredados, como se fôssemos caçadores de pipas. Prometemos buscar no guia dos curiosos a descoberta do enigma se as mulheres são de vênus e os homens são de marte, mas temos certeza que nunca vamos saber exatamente quem mexeu em nosso queijo. Entretanto, mesmo sentindo-nos estrangeiros, vamos utilizar nosso jeito guarani, para dançarmos a verdadeira valsa negra, que é trabalhar com comunicação social no Brasil. Prometemos que não seremos meros náufragos no mercado de trabalho. Agora, podemos sair de nossas cavernas, pois somos seus pupilos, uma vez que entendemos muito bem os seus ensinamentos. Esperamos que até mesmo olga nos ajude na batalha do dia-a-dia. É... com certeza, você percebeu que para formatar este texto, tivemos de recorrer a muita intertextualidade, nâo é? No entanto, esta é apenas uma pequena homenagem a você, Ariadne, que será sempre nossa professora e mestra e por isso foi aclamada, pela maioria, como nossa paraninfa. Vamos tentar colocar em prática toda a sua filosofia, para mostrar a diferença que há entre os que foram e os que não foram discípulos de Ariadne Jacques. Obrigada por tudo, professora! Emerson Rocha"