quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O amadurecer... de Renata SM

... Na barriga da mãe, é deixar de ser uma sementinha e se tornar um bebê; ... depois de nascer, ainda com poucos meses de vida, é saber a hora de mamar, aprender a falar "mamã", "papa", "au au", "água"; ... com três anos, é aprender a usar o piniquinho e não precisar mais de fralda; ... com entre seis ou sete anos, é aprender a ler e a escrever e começar a fazer pequenas operações de adição e subtração; ... com entre dez e doze anos, é deixar de fazer pirraça, parar de brincar de carrinho e de boneca (só escondido), e começar a pensar que é pré-adolescente, é querer deixar de ser criança; ... com entre quinze e dezessete, é deixar de ser pré-adolescente, beijar na boca, arranjar o primeiro namoradinho, sair na night achando que já é adulto, é querer deixar de ser adolescente; ... com entre dezoito e vinte e um, é fazer faculdade, ter, em teoria, as soluções para todos os problemas da humanidade e continuar achando que é muito adulto; ... com entre vinte e seis e trinta anos, é trabalhar, ter todas as responsabilidades do Universo, controlar o próprio cartão de crédito e já estar pensando em se casar, é querer ter vinte e um outra vez; ... com entre trinta e oito e quarenta, é ser maduro o bastante (tanto que nem entrou na crise!), é ter a certeza de que não está tão velho assim, é passar quilos de cremes rejuvenescedores e entrar na academia, é querer ter vinte e sete outra vez; ... com entre cinqüenta e cinquënta e cinco, é entender que a ginástica deveria ter começado aos dezessete, é querer dar a volta ao mundo, é querer ter sido um jovem melhor; ... com entre sessenta e cinco e setenta, é achar que possui toda a experiência do mundo e ter certeza de que quando era jovem o mundo não estava tão desviado quanto hoje, é estragar os netos, rir da falta de jeito dos filhos e saber que, se quisesse, dava a volta na Lagoa correndo (só não o faz por falta de tempo); ... com mais de oitenta e oito, é entender o significado da palavra paciência, é saber que toda a experiência do mundo é muita coisa pra se carregar sozinho, é saber que o mundo é grande demais, mas uns poucos lugares vale a pena conhecer, é saber que cremes rejuvenescedores só criam uma perspectiva ilusória de futuro, é aceitar que é bom envelhecer; é saber que cartão de crédito não é tão bom assim, é saber que nem todos os problemas do mundo são tão simples de serem resolvidos, apesar de alguns muitos serem bem mais fáceis do que pensamos, é lembrar com alegria da adolescência e achar graça dos tropeços e mancadas, é saber o real valor e valorizar imensamente um beijo na boca, é brincar de carrinho e de boneca e tentar aprender a usar o vídeo-game quiçá o computador, só para agradar aos netos; é talvez não se lembrar mais de como se divide 13.773 por 93, é admitir que, às vezes, a fralda não é tão inútil assim, é ter novamente horários pra comer e dormir, é conhecer biologia e saber que a história da sementinha realmente resolve questões temporárias muito mais eficazmente, é ter sabedoria o bastante para admitir com olhos e pureza de criança, força e vivacidade juvenil, certeza de adultos e experiência anciã que, muito mais importante que tentar avançar ou voltar no tempo, é curtir o tempo presente, valorizar cada segundo do passado e entregar o futuro a quem pertence. Amadurecer com mais de oitenta e oito é compreender o quanto é importante acreditar, agradecer e confiar numa Energia que é muito maior que tudo que se chama Deus, ou seja lá qual nome Ela tiver...

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